Com uma aula magna marcada por emoção, potência política e ancestralidade, a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) deu início à segunda edição do Programa Erês, curso de formação continuada em educação infantil, relações étnico-raciais e antirracismo. A iniciativa é realizada com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e conta com recursos de emenda parlamentar da Deputada Estadual Beatriz Cerqueira. O encontro virtual, realizado na noite de terça-feira (18/6), reuniu autoridades, representantes do governo federal, além das mais de 4 mil educadoras inscritas de todos os 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal.
A cerimônia de abertura contou com a presença da Reitora da UEMG, professora Lavínia Rosa Rodrigues, que destacou o papel da Universidade como promotora de políticas públicas inclusivas e transformadoras. “A história da UEMG é de uma universidade pública, gratuita e popular. Este curso é um exemplo claro do impacto social que a universidade pode ter quando assume sua vocação para a justiça e a equidade”, afirmou.
O evento teve início com a apresentação da ex-aluna da UEMG e atual integrante da equipe de coordenação do Programa Erês, Laura Regina Gouveia, que emocionou o público ao relatar sua trajetória na educação e apresentar o livro infantil de sua autoria, Margô, finalista do Prêmio Nacional de Literatura Afro-Brasileira – Erê Dendê. “A educação é capaz de transformar. Foi na UEMG que fui despertada para pensar a educação a partir das relações étnico-raciais”, disse Laura.
Entre as autoridades convidadas, esteve a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, que reafirmou o compromisso do governo federal com a formação de professoras e com a educação pública antirracista desde a primeira infância. “Este curso é essencial para que possamos, desde a creche, construir um projeto pedagógico democrático, plural e de respeito à diversidade”, afirmou.
Também participaram da mesa de abertura a Diretora de Políticas de Educação Étnico-Racial e Educação Escolar Quilombola do Ministério da Educação (SECADI/MEC), Cléria Mara dos Santos, os Pró-Reitores Moacyr Laterza Filho (Extensão) e Patrícia Caetano de Araújo (Graduação), a assessora Lílian dos Anjos, representando a deputada estadual Beatriz Cerqueira, a diretora e a vice-diretora da unidade UEMG de Ibirité, professoras Camila Meira e Tatiane Ruas. Ao todo, o programa reúne 56 profissionais da Universidade em sua execução.
A aula magna foi ministrada por Makota Kidoiale, liderança política do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango, e por Roberta Froes, escritora e Vice-Reitora da Universidade Federal de Ouro Preto. Em sua fala, Makota apresentou o projeto Eduka Kilombu, uma experiência pedagógica comunitária e ancestral criada em resposta às violências racistas enfrentadas por crianças quilombolas na escola formal. “Nós temos direito à nossa história desde a existência de África. O Estado precisa reconhecer o terreiro, o quilombo e outros territórios tradicionais como centros legítimos de saber”, afirmou.
Em tom de manifesto, Makota Kidoiale leu a “Carta pela Educação Ancestral Antirracista do Quilombo Manzo”, que exige que o novo Plano Nacional de Educação (PNE 2024-2034) reconheça os saberes dos povos tradicionais como estruturantes da política educacional brasileira.
A escritora Roberta Froes completou a aula com um chamado à ação prática, voltado especialmente às mais de 4.300 cursistas da educação infantil. “Nós, professoras negras, precisamos ser as adultas protetoras das nossas crianças. Se queremos uma educação antirracista de verdade, precisamos começar na creche”, afirmou.
Coordenador do programa desde a sua criação, o professor Otavio Henrique Ferreira da Silva celebrou a adesão expressiva à segunda edição e enfatizou a dimensão política da proposta. “O Programa Erês nasce do compromisso da universidade pública com a justiça racial. Formar educadoras/es para o enfrentamento do racismo desde a infância é uma tarefa urgente e coletiva. Nossa meta é fazer com que nenhuma criança seja silenciada ou violentada por sua identidade”, afirmou.
A aula inaugural foi transmitida pelo Youtube e pode ser assistida em:
https://www.youtube.com/live/i9okaUaQp9s?si=tJISD2vvdCH5eK0P