Ao todo são oferecidas 100 vagas nos três cursos da Escola de Música da UEMG, localizada na capital mineira
Reportagem: Andreza Brito
Os candidatos a uma vaga nos cursos de Música oferecidos pela Escola de Música em Belo Horizonte participaram, no último fim de semana, dias 22 e 23 de fevereiro, da última etapa de provas para alcançar o sonho de ingressar na UEMG. Eles realizaram as Provas de Habilidades Específicas, fase eliminatória e classificatória do exame, destinada exclusivamente aos concorrentes das graduações em Música. Bacharelado em Instrumento, Canto ou Regência Coral, além das licenciaturas em Instrumento, Canto e Educação Musical Escolar.
Para a Prova Prática, os candidatos foram responsáveis por levar seus instrumentos musicais, com exceção do piano, disponível no local de prova. Além disso, deveriam estar com as cópias das obras que executariam.
Vestibular marcado pela diversidade
A Escola de Música de Belo Horizonte surgiu em 1954, como parte da Universidade Mineira de Arte. Após mudanças de nome, foi incorporada à UEMG em 1995, ampliando sua atuação no ensino, pesquisa e extensão musical.
Wagno Macedo (foto abaixo), coordenador da área de Música do Vestibular da UEMG e professor de clarineta, atua na instituição há 20 anos. Em mais de 15 deles diretamente na realização do vestibular. Segundo ele, é muito gratificante perceber que o perfil dos candidatos é bastante diverso.
![]() |
“É um momento muito especial. Uma responsabilidade grande receber os candidatos em um dia tão importante para eles. Aqui temos pessoas com perfis muito variados: umas vem do interior, alguns jovens que estão bem no início da jornada, outras pessoas que já tocam instrumentos há muito tempo. Isso é muito importante. Contribuímos para democratizar o acesso.”, conta. |
Apoio para acesso e continuidade dos estudos
A UEMG tem investido ao longo dos anos em estratégias para garantir a permanência dos alunos, em especial aqueles considerados em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Parte desse trabalho é realizado pelo Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE), que promove a escuta das demandas dos estudantes e o encaminhamento para trazer soluções. Atuação essencial também no processo de inclusão de estudantes com deficiência.
A professora e subcoordenadora do NAE, Daniella Costa (foto abaixo), está há 20 anos na universidade. Entre outras atividades, ela coordena e orienta os monitores que vão acompanhar os alunos com deficiência. Suporte também oferecido durante as Provas de Habilidades Específicas.
![]() |
“Eu me sinto extremamente realizada com o meu trabalho e, ao mesmo tempo, desafiada. A nossa sociedade tem muitos obstáculos ainda para promover a inclusão de pessoas com deficiência. Esses alunos chegam com toda uma história de vida e isso gera para nós muito aprendizado”, analisa. |
Um dos monitores do (NAE) é Antônio Carlos Carmelito (foto abaixo), aluno da UEMG que está no 8º período. Atuando há 11 meses como monitor de um aluno com deficiência, ele aponta que é essencial uma boa conversa para entender o tipo de suporte necessário.
![]() |
“No dia do vestibular, também realizo esse trabalho. Recebo o candidato, dou as boas-vindas, me apresento e converso para entender o que ele precisa e, a partir daí, ofereço o suporte necessário”, explica. |
Cheios de vontade de aprender
Durante esta edição, Antônio foi monitor da Maria Auxiliadora Barreto Carneiro Filha (foto abaixo), de 65 anos, que mora em Belo Horizonte. A candidata a uma das vagas para cursar Violino, está em busca da segunda graduação. Atualmente, ela é enfermeira e atua como massoterapeuta. Por causa da retinose pigmentar, ela foi perdendo a visão de forma gradativa ao longo dos anos.
![]() |
“A perda da visão significou pra mim a necessidade de encontrar outras formas de me encantar com o mundo. E a música me ajudou muito nisso. Eu toco violino faz tempo, mas a partir de 2023 passei a me aprofundar nos estudos. Eu amo estudar!”, analisa. |
Outro candidato que acredita na força de seguir aprendendo em todas as fases da vida é Francisco de Assis da Costa (foto abaixo), morador de Belo Horizonte, que está com 79 anos, 60 deles dedicados à música. Inspirado pelo pai, José Fagundes da Silva, que era oficial da Polícia Militar de Minas Gerais e integrante da banda do Departamento de Instruções, Francisco também seguiu carreira na corporação e sempre foi encantado por instrumentos musicais.
![]() |
“Sou candidato a uma vaga para o curso de Saxofone Popular. Queria ter feito o vestibular antes, mas a pandemia acabou atrapalhando. Depois desse período, resolvi ir em busca desse sonho. Estou ansioso, mas vai dar tudo certo”, conta. |
Inspiração que vem de casa
Além de Francisco, muitos candidatos descobriram o gosto pela música com a família. Algo muito comum principalmente entre os candidatos mais jovens. Esse é o caso de Miguel Oliveira de Queiroz (foto abaixo), de 18 anos, candidato de Belo Horizonte a uma vaga para estudar trompete.
![]() |
“Desde os 8 anos eu toco trompete. A minha família toda toca instrumentos musicais e acabei sendo influenciado por eles. Faço aulas há três anos com o professor João Paulo Correia, que se formou aqui na UEMG. No último ano, reforcei a preparação com foco no vestibular”, aponta. |
Para Raissa Samays, também de 18 anos, da cidade de Belo Horizonte, o grande incentivador é o pai, David Belmonte, que também é músico. Ela trouxe o contrabaixo para realizar a prova.
![]() |
“Comecei a tocar violino com 9 anos, depois fui para outros instrumentos. Quando eu conheci o contrabaixo, me apaixonei e não quis largar mais. Estudei por conta própria e fiz acompanhamento de teoria musical. O dia de hoje representa um marco na minha vida, a chance de aprofundar meus conhecimentos”, comentou. |
Conhecimento para fortalecer o futuro da música
Um dos cursos oferecidos pela UEMG no vestibular é o de Licenciatura em Educação Musical Escolar. A graduação forma professores para atuar na Educação Básica, a partir de disciplinas teóricas e práticas, incluindo aulas coletivas de instrumentos como teclado, violão e percussão. Além disso, a iniciação à pesquisa científica integra a formação.
Esse curso atraiu o interesse de profissionais que já atuam na área, mas buscam uma formação universitária e conhecimentos para estimular o desejo de crianças e adolescentes por esse universo. Andreia Bezerra (foto abaixo), moradora de Belo Horizonte completou 61 anos. Desde os 15, se dedica à música e agora quer dar um novo passo na carreira.
![]() |
“Sou artesã e musicista, mas sinto falta da formação acadêmica. Por isso, fiquei animada quando soube do vestibular da UEMG. Agora, depois que os filhos estão criados, posso me dedicar a esse sonho. Estava um pouco nervosa, mas acho que fui bem. |
Trajetória semelhante à do Cláudio Silvério Cota (foto abaixo), de 54 anos. Integrante da Associação de Violeiros de Sarzedo, cidade onde vive, tem se dedicado à valorização da música popular e das tradições culturais da região. Algo que depende, sem dúvida, do surgimento de novos talentos.
![]() |
“A música sempre esteve presente na minha vida. Fiz curso de engenharia de áudio, de viola caipira. Também sou produtor cultural, mas sinto um chamado muito grande para ensinar outras pessoas. Quero contribuir para formar jovens músicos”, aponta. |