Raphaela Natali Cardoso, no ano de 2012, ainda com 17 anos, ingressou ao Curso de Direito junto à Universidade do Estado de Minas Gerais, Unidade Frutal. Após a conclusão da graduação, iniciou uma longa jornada de estudos rumo ao grande sonho: ser delegada. Isso se concretizou com a aprovação em todas as etapas do concurso no estado de Roraima.
Raphaela escreveu um texto e contou toda sua trajetória, com todos os desafios da graduação até o título de Delegada. Acompanhe:
“O início do curso foi um tanto quanto difícil pela distância da família e pelas incertezas quanto à escolha. É normal, afinal, com 17 anos, ainda tão jovens, pois tamanha é a responsabilidade, e pressão, por termos que escolher a nossa profissão que será exercida para o resto da vida. Frutal foi uma cidade que me acolheu. Fiz amigos na faculdade e amigos naturais da cidade, que foram como minha família e essenciais para minha permanência até o final da graduação. Sou muito grata à todas as pessoas que conheci e que me fizeram sentir parte da família.
A UEMG foi, sem dúvidas, parte de uma jornada enriquecedora que foi muito além dos livros e das salas de aula. O curso de Direito, além do conhecimento de leis sob o aspecto formal, nos proporciona uma imersão que transforma não apenas o conhecimento jurídico, mas também a maneira como enxergamos a sociedade e suas complexidades.
Ao longo dos anos acadêmicos, aprendi não apenas as normas e códigos, mas também a importância da justiça, da ética e da responsabilidade social. Cada disciplina é como uma peça do quebra-cabeça jurídico, contribuindo para a formação de um pensamento crítico e analítico.
A interação com professores e colegas de turma diversificados me proporcionou um ambiente de aprendizado dinâmico, onde diferentes perspectivas foram debatidas e questionadas diversas vezes. Os estágios e atividades extracurriculares são como laboratórios da teoria aprendida em sala. Colocar em prática o que foi estudado é fundamental para consolidar o aprendizado e desenvolver habilidades práticas indispensáveis para a atuação no campo jurídico. Na grade curricular da UEMG, pude fazer estágio por 4 semestres em instituições públicas, núcleo de prática jurídica e escritórios de advocacia. Cada experiência contribuiu para lapidar a minha identidade profissional.
Porém, foi em um evento na Universidade, já no segundo ano da graduação, que uma palestra ministrada por dois Delegados de Polícia recém aprovados na PCMG lotados em Frutal, que me fez brilhar os olhos pelo cargo de Delegado de Polícia. Foi naquele dia que vi que era aquela a profissão que queria.
No 9º período de faculdade, veio a pressão para prestar a prova da OAB, afinal, o exame é praticamente uma validação do curso de Direito. Obtive êxito logo na primeira tentativa, aos 21 anos. Ao término do curso, em 2016, e já aprovada no exame de ordem, estava certa de que iria estudar para concurso público, pois nunca foi um desejo ser advogada. A meta havia mudado um pouco, era o concurso de oficial da Polícia Militar de Minas Gerais. Então, aos 22 anos e já graduada, me mudei para Belo Horizonte para iniciar um curso presencial objetivando o CFO. Porém, pouco tempo depois, vi que não era a profissão que almejava e não levei os estudos à sério. Talvez pela pouca idade e falta de maturidade em entender o quão importante para o meu futuro era aquela oportunidade de apenas estudar. Acabei por abandonar os estudos para concurso e comecei a trabalhar em um escritório de advocacia massificado. O que ganhava, quase não pagava o aluguel e ainda precisava de ajuda financeira da minha família, o que me gerou uma grande insatisfação e sentimento de impotência.
Devido a isso, me mudei de cidade buscando melhores alternativas na advocacia. Em Uberlândia, fiquei morando por 2 anos. A advocacia por lá também não foi uma boa opção para mim, e eu ia, a cada dia mais, me frustrando. Pensei em fazer uma nova graduação, me encontrava um pouco perdida em relação ao meu futuro profissional, mas, não era uma opção ficar sem trabalhar, pois minha família não podia mais me auxiliar financeiramente de forma integral.
Foi quando resolvi me afastar do Direito por completo, e em dezembro de 2018, fui contratada por uma empresa de Telemarketing para trabalhar como atendente, vendendo produtos de internet banda larga, chip de celular, planos de assinatura de tv e telefonia fixa. Permaneci pouco mais de um ano como atendente, fato que foi essencial para mim, para o meu crescimento e principalmente para adquirir maturidade. Através de mais frustração e insatisfação com a minha vida profissional, decidi sair da empresa na qual trabalhava, ainda sem saber o que faria posteriormente.
Já no início de 2020, buscando ainda algo que eu não sabia o que era, me mudei mais uma vez de cidade. Fui morar junto ao meu pai no Estado de Goiás. Logo no início do ano veio a pandemia, que limitou as possibilidades de emprego em qualquer área. Então, ainda bem perdida, resolvi estudar para concurso público. Iniciei pensando em prestar a prova da PCDF, para o cargo de agente, pois o edital havia saído há pouco com muitas vagas. Estudei por pouco tempo, sem levar muito a sério, e alguns meses depois, troquei de carreira. Estava decidida que seria auditora de algum tribunal de contas, mesmo sem ter ideia da quantidade de matérias e das atribuições do cargo. Iniciei os estudos e alguns dias depois, percebi, mais uma vez, que não era o que queria e parei novamente com os estudos. Sempre com um sentimento de frustração e impotência, tanto por não conseguir manter uma constância, quanto por não saber de fato o que queria para a minha vida.
Acabei entrando para um escritório de advocacia em meados do ano de 2020, como autônoma, certa de que poderia dar certo dessa vez, o que também não aconteceu. Porém, em novembro de 2020, passando pelo Instagram, me deparei com um perfil oferecendo um curso para o concurso da polícia civil do Estado do Pará, o qual oferecia muitas vagas. Na mesma hora (e sem pensar muito), adquiri o curso e comecei logo no outro dia, a estudar com muito afinco, como se algo tivesse despertado em mim de uma hora para a outra.
Iniciei, os estudos, porém, um tanto quanto perdida sobre os métodos e sobre o que era necessário mesmo fazer para ser aprovada. Mas foi depois dali que nunca mais parei de estudar. Adquiri disciplina e constância, mesmo ainda errando nos métodos. Reprovei nesse primeiro concurso e em vários outros: PCPA, PCMS, PMMG (soldado), PCMG (investigador e escrivão). Em junho de 2022, já com mais maturidade nos estudos, com um bom curso, disciplina e regularidade, consegui a minha primeira aprovação em uma prova objetiva, para Delegado, no Estado de São Paulo. Porém, não consegui ser aprovada na prova discursiva e fui eliminada do concurso. Depois, ainda reprovei na PCES, na PCGO e na PCAL.
As reprovações, no meu caso, serviram como combustível para eu não mais parar com os estudos, pois eu já sabia que um dia seria aprovada e finalmente havia entendido o que me fazia brilhar os olhos, que é a polícia.
Em outubro do mesmo ano consegui a aprovação na primeira e na segunda fase para Delegado em Roraima. Passei pelo TAF, exames médicos, psicológicos e após, pela tão temida (por mim) prova oral. A prova oral foi um grande desafio, pois é nessa fase que concorremos com o nosso pior inimigo: nós mesmos. Obtive êxito na etapa oral, bem como na investigação social.
Hoje, aprovada em todas as fases da primeira etapa do concurso de Delegado da Polícia Civil de Roraima, aguardando a classificação final e a convocação para o curso de formação. Apesar de já aprovada nessas etapas, sigo estudando para próximos certames de Delegado que estão por vir, como a PCSP e a PCSC. É muito importante que os estudos não cessem mesmo após a aprovação, pois a nomeação é algo que pode demorar e não perder o ritmo de estudos é muito importante, afinal, foi muito difícil conseguir disciplina e consistência.
A aprovação em um concurso público é o resultado de dedicação, disciplina e foco. É como plantar sementes de conhecimento e colher os frutos do esforço. Cada página estudada, cada revisão feita, é um passo em direção ao nosso objetivo. É um caminho muitas vezes solitário, doloroso e repleto de renúncias, mas hoje, vejo que vale a pena e passaria por tudo que passei e por tudo que renunciei novamente.
O caminho pode ser desafiador, mas é na superação dos obstáculos que nos fortalecemos. A persistência é a chave para vencer as dificuldades que podem surgir durante a jornada de preparação. Além do estudo, é importante cuidar da mente e do corpo. Momentos de descanso são necessários para recarregar as energias.
Algo muito importante na preparação é: Não se compare aos outros, cada um tem seu próprio ritmo e trajetória. Eu me julgava muito por ter demorado a perceber que o meu caminho era o estudo para concursos públicos. Fiquei perdida um tempo e sentia que havia jogado alguns anos fora, pois devia ter começado logo. Hoje vejo que cada parte tortuosa que passei foi importante para adquirir a maturidade que tenho. Celebrar nossas pequenas conquistas ao longo do caminho e saber compreender que os erros também são peças fundamentais no quebra-cabeça da aprovação.”