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    Faculdade de Educação | Evento atualiza discussão sobre o holocausto



    Em hebraico, holocausto é conhecido como Shoá, termo que significa ‘destruição’. Com sentido diverso, construtivo, o ‘Ciclo de atividades: História, Educação e Holocausto’, que foi aberto na noite de ontem (04/11), no Auditório da Faculdade de Medicina da UFMG, em Belo Horizonte, pretende fortalecer reflexões em torno do massacre de judeus pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Organizado pela Faculdade de Educação (FaE) da UEMG, o evento reúne palestras, cinema comentado, relatos de sobreviventes e práticas pedagógicas.

    Destaque para a exposição ‘Anne Frank - Histórias que Ensinam Valores’, que apresenta trechos do diário da garota, detalhes de sua vida, família e comunidade, bem como fotos e informações do contexto à época, no intuito de resgatar os eventos (confira imagens). Disposta no hall de entrada da FaE-UEMG (R. Paraíba, 29 - Funcionários), a montagem fica em exibição até o próximo dia 14/11.

    Toda a programação é fruto de parceria entre o Instituto Histórico Israelita Mineiro, Federação Israelita do Estado de Minas Gerais, Núcleo Anne Frank de Belo Horizonte e a casa Anne Frank, de Amsterdã (Holanda). Realizadas de forma itinerante, as atividades chegaram a Belo Horizonte no ano passado, passaram por diversas instituições de ensino, estimulando estudos e debates, e são finalizadas na cidade agora, na Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais.

    Reflexões marcam a abertura
    Após uma apresentação do Coral da Congregação Israelita Mineira, que executou canções litúrgicas e folclóricas judaicas, foi composta a mesa de abertura do evento. Inaugurando as falas, a reitora da UEMG, Prof.ª Lavínia Rodrigues comentou sobre o crescimento do discurso de ódio observado no Brasil, atualmente: “É necessário resistir à intolerância, observando com atenção as grandes tragédias do passado. O ovo da serpente está dentro de nós. Temos o desafio de construir diariamente relações éticas, baseadas no afeto e no respeito”, ressaltou.

    Seu colega de mesa, o pró-reitor de Extensão da Universidade, Prof. Moacyr Laterza, adotou um tom mais pessoal em seu discurso, lembrando da experiência marcante de ler ‘O Diário de Anne Frank’, em seu período escolar. "Todo mundo é um pouco Anne Frank. Ela representa esse olhar perplexo diante do que a sociedade pode gerar de mais horrível, como a perseguição e a guerra".

    Vice-diretor da FaE-UEMG, Lúcio Alves de Barros fez referência a pensadores que viram no terror do holocausto o fim da Modernidade e de suas ilusões de progresso harmônico. O professor aproveitou para enfatizar a missão ética dos educadores a partir desse evento histórico: "Devemos sempre reforçar a mensagem do valor da vida, da paz, da alteridade, enfim, do como viver bem".

    Já o presidente do Instituto Histórico Israelita Mineiro, Jacques Ernest Levy, defendeu que Anne Frank – personagem central no Ciclo de Atividades – é um símbolo não só do povo judeu, mas do mundo todo. “Essa jovem de imensa sensibilidade e precisão nas palavras nos legou um relato contundente e profundo sobre a experiência da perseguição. Mas também sobre resistência, com páginas memoráveis sobre seus sonhos, esperanças e fé na humanidade”.

    Por fim, a Prof.ª Aline Choucair Vaz, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Conhecimento e Educação (COED) – órgão da FaE-UEMG que organiza a programação junto com o Centro de Comunicação da Faculdade –, agradeceu aos colaboradores da iniciativa e salientou a importância desse tipo de debate: “Alguns perguntam porque falamos tanto sobre o holocausto? Mas, na verdade, a pergunta deveria ser: por que falamos tão pouco?”, provocou.

    Ensinamentos do massacre
    Encerrando a abertura, foi realizada uma palestra com o coordenador geral do Museu do Holocausto, em Curitiba, Carlos Reiss, cujos avós sobreviveram ao genocídio. Para uma plateia composta majoritariamente por educadores e estudantes do tema, Carlos optou por abordar a dimensão pedagógica do evento histórico.

    “Não se trata de proporcionar uma viagem no tempo, permitindo vivenciar exatamente como era o esconderijo de Anne Frank e o campo de extermínio dos judeus, que foram experiências únicas. Devemos fazer o caminho inverso e associar com os dias atuais, estimulando a reflexão e análise de problemas e valores que são universais, como a democracia, a justiça, a diversidade”, argumentou Carlos, lembrando que ainda hoje observamos grupos que se consideram superiores e no direito de perseguir minorias, por meio do racismo e discriminação.

    Ele observa que é preciso refutar uma percepção perigosa que não reconhece o caráter ordinário da violência praticada: “Poucas pessoas não conseguem entender racionalmente o que aconteceu. É como se estivesse além da compreensão tal barbárie. Perspectiva que se une a ideia recorrente de que seriam monstros os perpetradores. Mas é uma percepção perigosa, pois ignora justamente a dimensão humana do terror. Não foi da noite para o dia, mas um processo construído em cima de decisões políticas e coletivas”.

    Carlos Reiss destacou que a geração atual é a última a conviver com sobreviventes do holocausto e que, embora a lembrança viva da tragédia esteja próxima do fim, permanece o desafio de consolidar essa memória: “A lembrança é exclusiva de quem passou pelo evento, mas a memória é um projeto coletivo, que devemos direcionar a fim de fundamentar o cultivo de valores que mirem um futuro melhor. Essa é a vocação do holocausto. Trata-se de um esforço, de uma luta, porque se não fizermos isso, outros farão essa construção, mas noutros sentidos, muitas vezes perigosos”.

    Ao final da apresentação, houve o lançamento de livro 'Luz sobre o caos: educação e memória do Holocausto', de autoria do próprio Carlos Reiss.

    Programação
    O Ciclo de atividades: História, Educação e Holocausto prossegue hoje (05) à noite com a palestra ‘Mãe, fale-me de Adolf Hitler! : as mulheres no Terceiro Reich’, com a historiadora Ana Ianeles (UFMG), no auditório da Faculdade de Educação da UEMG. A programação vai até semana que vem – confira aqui.

    Mais informações: https://www.facebook.com/cicloannefrank/

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