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    Ícone do Clube da Esquina, Toninho Horta será doutor honoris causa pela UEMG

    "Hoje não passa de um dia perdido no tempo/ E fico longe de tudo que sei/ Não se fala mais nisso/ Eu sei, eu serei, pra você, o que não me importa saber." Os versos imortais de Toninho Horta revelam a genialidade do artista que marcou época junto ao Clube da Esquina. Aos 75 anos, o cantor, compositor, instrumentista e arranjador vai receber o título de doutor honoris causa pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), por sua grande contribuição à cultura e à arte.

    A homenagem foi aprovada pelo Conselho Universitário da UEMG, por aclamação, em reunião realizada no dia 18 de julho. A indicação partiu do Conselho Departamental da Escola de Música, em virtude do "brilhantismo de sua trajetória profissional" e da "expressividade de sua produção, reconhecida, mundialmente, no campo da música popular brasileira". A data da solenidade para outorga do título ainda será definida.

    "Eu acompanho a carreira do Toninho há muito tempo e sempre observei a sua preocupação em capacitar os músicos brasileiros, além de toda a dedicação à carreira. Ele tem uma forma muito própria de tocar e de harmonizar e isso torna o seu trabalho único. Logo, o Toninho é muito requisitado para gravações com outros artistas e para dar cursos sobre a sua maneira de tocar e de pensar a harmonia", diz o professor Hélder Coelho, diretor da Escola de Música.

    Toninho Horta e Minas Gerais têm uma relação que parece intrínseca, versejada em letras de canções como "Aqui, oh!", composta junto a Fernando Brant, que também fez história no Clube da Esquina: "Em Minas Gerais/ A alegria é guardada em cofres, catedrais/ Na varanda, eu vejo o meu amor/ Tem benção de Deus/ Todo aquele que trabalha/ No escritório/ Bendito é o fruto/ Bendito é o fruto/ Bendito é o fruto dessas Minas Gerais".

    Segundo o artista, Minas é a raiz de sua inspiração. Ele afirma que a música, o circo, o teatro, o cinema, a arquitetura, as artes plásticas, a dança e as festas tradicionais são a maior riqueza de nosso estado, além do povo, tão diverso etnicamente.

    Toninho afirma que o título de doutor honoris lhe dá a impressão de que atingiu a maturidade, como músico e como pessoa. Para ele, o reconhecimento, além de tudo, premia todo o esforço, dedicação e superação das dificuldades que encontrou ao longo de sua trajetória.

    "Os mestres de uma grande universidade e da importância da UEMG, em inúmeras áreas e, principalmente, na música, ao decidirem indicar o meu nome para essa honraria, é incrível de bom. Meu sono será, a partir de agora, mais leve, e meu sonho maior é dignificar, com muita alegria e gratidão, tudo o que criei, musicalmente, desde menino, e que se torna uma linda história para os meus netos", diz Horta.

    Para a reitora da UEMG, professora Lavínia Rosa Rodrigues, o título de doutor honoris causa destaca a importância do trabalho do artista em Minas Gerais e também nos cenários nacional e internacional. Durante a reunião do Conun que aprovou a condecoração, a reitora celebrou o legado do músico: "Toninho Horta é um compositor cuja obra transita, com naturalidade, desde a música popular até os círculos mais acadêmicos e eruditos. Seu reconhecimento não se limita ao campo da música popular brasileira, mas é amplamente celebrado também entre estudiosos da música".

    Em 2012, outro grande nome do Clube da Esquina foi condecorado com o título de doutor honoris causa pela UEMG. Milton Nascimento, autor de clássicos como "Travessia" (junto a Fernando Brant), "Nada será como antes" (junto a Ronaldo Bastos) e "Caçador de mim" (junto a Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão), foi homenageado, também por sua contribuição à arte e à cultura mineira.

    Perfil

    Nascido em Belo Horizonte, Toninho Horta se encontrou com a música ainda na infância. Sua família era composta por músicos, como seu avô, o maestro João Horta, que compunha canções de música sacra, no período barroco mineiro.

    As primeiras composições de Horta surgiram em sua adolescência, acompanhando cantoras na extinta TV Itacolomy. No fim dos anos de 1960, foi finalista da segunda e quarta edições do Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, com as canções "Maria madrugada", composta por Júnia Horta, e "Nem é carnaval", sua parceria com Márcio Borges, em 1967; e "Correntes", que sofreu censura da ditadura militar e também composta com Borges, em 1969.

    Ao longo de sua trajetória, Horta trabalhou com outros grandes nomes da música, como Maria Bethânia, Gil Goldstein, Gal Costa, Djavan, Danilo Caymmi, Flávio Venturini, Wagner Tiso e Edu Lobo. Em 1970, fez parte da banda de Elis Regina e participou da gravação do LP "Ela". Em 1972, participou de várias faixas do LP "Clube da Esquina", de Milton Nascimento, com quem repetiu a parceria em 1974, no álbum duplo, gravado ao vivo, "Milagres dos peixes".

    Seu trabalho mais recente, o álbum "Belo Horizonte", de 2019, foi criado junto à Orquestra Fantasma, banda que o acompanha há mais de 30 anos, e venceu o Grammy Latino de 2020, na categoria "Melhor álbum de Música Popular Brasileira". Com cerca de 30 álbuns gravados, Toninho Horta é reconhecido, no mundo, como um dos melhores guitarristas de jazz.

    Por Elias Fernandes

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