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    UEMG Campanha participa da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária

    Com informações do Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas

    No final do mês de novembro, a UEMG Campanha se juntou a outras quatro instituições de ensino superior para o encerramento da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária Popular (JURA). Mais de 150 estudantes, técnicos e professores da UEMG,Unifal (Universidade Federal de Alfenas - Sede Alfenas e Campus Varginha), a Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), e o Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) - Campus Inconfidentes, Machado e Poços de Caldas re reuniram no último sábado do mês no Acampamento Quilombo Campo Grande do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Campo do Meio/MG.

    Na parte da manhã, após o acolhimento pelos integrantes do MST com um café da manhã solidário, os visitantes conheceram os lotes do acampamento e a produção e a história das famílias acampadas. A programação da tarde iniciou com uma mística e uma feira com produtos da Reforma Agrária Popular e seguiu com rodas de conversa sobre os 40 anos do MST, a história do Acampamento Quilombo Campo Grande, a Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano e o Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas e com uma avaliação sobre as atividades da JURA 2024 realizadas pelas instituições de ensino do Sul de Minas Gerais.

    O Quilombo Campo Grande e Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano

    Na roda de conversa, a assentada Yara Naí de Freitas contou sobre a história de mobilização de trabalhadores e trabalhadoras para a ocupação das terras da antiga Usina Ariadnópolis e de formação, há 26 anos, do Acampamento Quilombo Campo Grande, considerado território de um dos maiores e mais antigos conflitos agrários do Brasil. “Estamos há 26 anos esperando pelo direito de ter um pedaço de terra legalizada”, comentou Yara.

    Em sua fala, o acampado Nelson Bernardes de Freitas destacou a importância da diversificação da terra e dos alimentos promovida pelas famílias acampadas do Quilombo Campo Grande ao longo de duas décadas e do enfrentamento ao envenenamento e empobrecimento da diversidade de alimentos provocada pela monocultura. “A monocultura degrada o solo e também a cultura”, afirmou Nelson.

    Os acampados também relataram a expectativa da assinatura pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do decreto de desapropriação da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo, antiga administradora da Usina Ariadnópolis, que teve a impossibilidade de recuperação judicial determinada pelo Superior Tribunal de Justiça, no dia 31 de outubro. “Isso para nós é uma conquista muito grande porque estamos há 26 anos esperando esse decreto, é muita luta e muito sofrimento que a gente viveu aqui”, relembrou o acampado Jailson Lima da Cruz.

    O Acampamento Quilombo Campo Grande já enfrentou 11 despejos, sendo o mais simbólico para as pessoas dirigentes, o imposto pelo governador Romeu Zema (Novo) em meio à pandemia de Covid 19, no qual as famílias acampadas resistiram por mais de 50 horas e enfrentaram cerca de 700 policiais equipados com caveirões, helicópteros e bombas e a destruição da Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano.

    Após ter a sua primeira sede destruída nesse despejo, a Escola Popular de Agroecologia Eduardo Galeano está em processo de reconstrução em outra área do acampamento, através do apoio solidário de pessoas de diferentes países que reconhecem a importância da luta das famílias acampadas pela Reforma Agrária Popular. Para Helen Mayara dos Santos, a Reforma Agrária Popular acontece através dessa união entre trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo. “É assim que trabalhamos, com aliança camponesa e operária”, afirmou a acampada.

    Instituições de ensino, pesquisa e extensão do Sul de Minas Gerais e a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária Popular

    Organizada pela articulação entre instituições de ensino, pesquisa e extensão, o MST, o CRDH, a Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais (Adere-MG) e o Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas Gerais, a edição 2024 da JURA no Sul de Minas Gerais envolveu a realização de mesas-redondas, debates, exibições de vídeos, instalações artísticas, exposições, apresentações e intervenções culturais, oficinas e feiras com produtos da Reforma Agrária Popular.

    Realizada anualmente, desde 2014, a JURA tem como objetivo aglutinar saberes em torno da questão agrária no Brasil e da construção da Reforma Agrária Popular e contribuir para a formação intelectual, política e social de estudantes. Com o lema “MST: 40 anos de Luta e Construção!”, a edição de 2024 buscou rememorar a trajetória do MST ao longo dos seus 40 anos de existência e o protagonismo do movimento na luta pela terra.

    Durante o encontro de encerramento desta edição da JURA, o professor da UNIFAL-MG - Sede Alfenas, Adriano Pereira Santos, ressaltou a importância da JURA como espaço de produção de sociabilidade. Em sua fala, a acampada Helen também reconheceu a JURA como espaço de aproximação de estudantes, professores e técnicos da realidade dos acampados e acampadas do MST. “É onde a gente pode levar a nossa experiência, a nossa história”, relatou.

    A assistente social do IFSULDEMINAS - Campus Machado, Nathalia Brant, apontou ainda como a realização da JURA está alinhada com o cumprimento da função social da universidade. “Daqui é de onde a gente volta fortalecido”, destacou ainda. O acampado Jailson também reafirmou a relevância da realização do encontro de encerramento para o fortalecimento da articulação entre instituições de ensino, pesquisa e extensão, as organizações da sociedade civil e os movimentos populares. “Esse dia de hoje é mais um passo do nosso andar junto”, pontuou.

    O Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas

    A articulação entre instituições de ensino, pesquisa e extensão, organizações da sociedade civil e o MST para a realização da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária no Sul de Minas Gerais foi uma das ações que culminou na criação do Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas.

    Instituído como lei estadual (Lei nº 23.939/2021), o Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas nasceu com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da agroecologia e da produção orgânica e ampliar a articulação existente no território. Atualmente o Polo agrega cerca de 40 organizações entre instituições de ensino, pesquisa e extensão, organizações da sociedade civil, movimentos populares, sindicatos e cooperativas e associações de agricultores e agricultoras.

    Em sua fala, o acampado Jailson, um dos integrantes da Coordenação Política do Polo, reconheceu a importância da articulação para o fortalecimento da produção de alimentos saudáveis e a busca por condições dignas de vida e trabalho para trabalhadores e trabalhadoras rurais na região. “É o nosso instrumento estratégico para o combate aos agrotóxicos e onde a gente consegue fazer a denúncia, principalmente do trabalho análogo ao escravo”, enfatizou Jailson.

    Encerramento da atividade

    A programação do encontro da JURA 2024 no Quilombo Campo Grande foi encerrada com a fala de Ricarda Maria Gonçalves da Costa, mais conhecida como Dona Ricarda, educadora popular responsável pela alfabetização de jovens e adultos do acampamento, que foi direcionada aos estudantes e às estudantes presentes. “Você, jovem, que não teve o contato com a terra que eu tive desde criança, aprenda a amar a terra, a falar da agroecologia. Que nós possamos conjugar com muita força o amor”, afirmou.

    A última atividade da edição 2024 da JURA no Sul de Minas Gerais será realizada nos dias 09 e 10 de dezembro na UEMG - Unidade Campanha.

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