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    Escola Guignard completa seus 80 Anos de existência

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    Alberto da Veiga Guignard em frente ao recém-criado “Curso de Belas Artes”, no Parque Municipal de Belo Horizonte. Década de 1940 (Fotografia de acervo privado)



    A raiz da Escola Guignard surge em 1944, na efervescência do arrojado projeto modernista proposto por Juscelino Kubistchek enquanto prefeito de Belo Horizonte. Alberto da Veiga Guignard, a convite de JK, assume o Instituto de Belas Artes, tendo como desígnio ampliar os horizontes da sociedade belo-horizontina, diante o rigoroso ensino acadêmico vigente à época. Em seu livro “Memória Histórica da Escola Guignard”, o Professor Antônio de Paiva Moura declara que foram muitas as dificuldades para a implantação de uma escola modernista. No entanto, Guignard trazia um grande liberalismo didático com extraordinários conhecimentos artísticos, que por si só bastavam para preencher um vazio infraestrutural no então chamado campo das belas artes. A proposta pedagógica de Guignard, além de ser inovadora, provocaria um salto cultural histórico, sendo um marco divisor na história das artes plásticas em Minas e referência no ensino e na prática das artes plásticas no Brasil.

    Nunca acreditei ser professor”. Sob esta afirmativa, Guignard levava seus alunos ao Parque Municipal de Belo Horizonte, para desenhar. Porém, antes de traçar o lápis de grafite duro sob o papel, praticava a observação da paisagem por horas. A ação livre e disciplinada de observar era a base de sua metodologia de ensino. Aprender a ver o mundo para melhor apreendê-lo. O ato de ver transformava-se em um fenômeno no tempo, na “maturação do olhar”, e na “colheita do gesto”. O tempo dedicado à captura do objeto deveria ser alongado; já o tempo do traço do desenho, preciso e determinado. O lápis duro riscava o papel como uma foice, sem os remendos da borracha. Dedicado à qualidade artística de seus alunos, Guignard era um grande incentivador, revelando-se ser um exímio educador.

    Nessas oito décadas de existência, muitas histórias pontuaram a trajetória de resistência da Escola Guignard que, a cada momento, se depara com novos desafios. Os elos afetivos que enraizaram os rumos dessa Escola ainda a permeiam. A união afetuosa de ex-alunos e amigos da Escola Guignard, nos cargos de gestão, curadoria, produção, exposição e educativo, celebra o legado do Mestre que fez da liberdade e disciplina, a raiz ontológica de sua pedagogia. Guignard fez do modo de ver, um modo de transformar a arte e a vida.

     

    Biografia do artista

    Alberto da Veiga Guignard nasce em Nova Friburgo, RJ, em 1896, e muda-se com a família aos 11 anos para a Europa, onde tem sua educação e formação artística (Munique, Florença e Paris). Tendo já participado de exposições no Brasil e na Europa (Salão de Outono, Paris e Bienal de Veneza, 1928), regressa ao Rio de Janeiro em definitivo, em 1929. Na cidade, forma laços estreitos com artistas de sua geração, como Candido Portinari, Oswaldo Goeldi, Ismael Nery, Di Cavalcanti, entre outros artistas adeptos e propagadores do modernismo na arte brasileira.

    Em 1944, a convite do prefeito da capital mineira, Juscelino Kubitschek, Guignard transfere-se para Belo Horizonte para assumir o Curso de Desenho e Pintura do recém-criado Instituto de Belas Artes. Permanece à frente da “Escola do Parque” (Municipal), até 1961, quando se muda para Ouro Preto, cidade que visitava mesmo antes de sua vinda para Minas. Com saúde debilitada, permanece em Ouro Preto por cerca de seis meses, falecendo, após breve internação em Belo Horizonte, aos 25 de junho de 1962.

    Histórico da Escola Guignard

    Inicia suas atividades com sessão solene, em Aula Inaugural proferida por Guignard, ao 30 de março de 1944, com o formato de curso livre voltado para desenho e pintura e princípios antiacadêmicos, pregando a observação da realidade e o exercício do desenho como base principal para o domínio técnico, chegando-se assim a uma linguagem particular.

    São diversos os locais que a sediam, tendo permanecido por longo tempo nas obras abandonadas do Teatro Municipal (atual Palácio das Artes), cuja construção teve início em 1943 e paralisada dois anos depois. Mesmo retomada essas obras, e inauguração em 1971, entre 1950 e 1994, a escola fundada por Guignard esteve ligada ao Parque Municipal, local que se tornou sua maior sala de aulas.

    Desvinculada da municipalidade, foi subsidiada por diversos fundos, administrada por Diretório Acadêmico, é declarada Fundação Escola Guignard (1974) gerida por sociedade civil, até ser incorporada à Universidade do Estado de Minas Gerais-UEMG, em 1990.

    Em 1995, suas atividades passam a ocorrer em sede própria, projetada pelo arquiteto Gustavo Pena, no bairro Mangabeiras. Ao longo do tempo, seu corpo de professores se compôs, incialmente, por ex-alunos de Guignard, e sucessivamente ex-alunos destes.

    A Escola compreende, desde sua integração à UEMG, cursos de graduação (Bacharelado e Licenciatura) e pós-graduação (Lato Sensu, Mestrado e Doutorado) em Artes Plásticas, além de variada gama de cursos livres de extensão, práticos e teóricos, oferecidos regularmente.

    Ao longo dos seus 80 anos, a Escola Guignard contribuiu para a preparação de um incontável número de artistas, professores, ilustradores, historiadores da Arte, críticos, curadores, cenógrafos, designers, entre outros.


    Profa. Lorena D'Arc Menezes de Oliveira - Diretora da Escola Guignard/UEMG





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